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A Maratona de Nova Iorque, um mês depois – o relato de Luis Fernando Luchi

Confira o relato de Luis Fernando Luchi sobre sua participação na Maratona de Nova York 2011.

Conversamos com alguns corredores viajantes que participaram da Maratona de Nova Iorque. Um mês depois da edição de 2011, eles nos contaram suas expectativas, como foram os preparativos e, principalmente, a emoção de correr em uma das provas mais desejadas do calendário de maratonas.

Neste primeiro post da série, conversamos com o Luis Fernando Luchi, atleta da Sprint Assessoria Esportiva, de Florianópolis, Santa Catarina. Confira o relato, repleto de detalhes e emoção!

A Maratona de Nova Iorque foi a minha primeira maratona e a primeira prova fora do Brasil.

Desde que procurei o auxílio da Sprint, isso em janeiro de 2010, pensava em fazer uma maratona. Desde lá, treinos e mais treinos, planilhas e mais planilhas, provas e mais provas. Tudo isso eu já considero como treino para a maratona, porque vão te dando rodagem e base para isso.

A preparação

Treinos específicos para a Maratona de NY começaram esse ano. Foi tudo muito bem pensado pelo Paulinho (Sprint), porque ele sabe muito bem o quão massante são os treinos para uma maratona, e ele mescla isso com provas, individuais e em equipe, de maneira a deixar o corredor sempre motivado. Pude participar esse ano do Volta a Ilha, MountainDo do Costão do Santinho e da Lagoa, Meia Maratonas de Floripa e do Rio de Janeiro e da Track&Field Florianópolis. E tudo isso com o objetivo maior da maratona de NY.

As rodagens começavam a aumentar, e, nos últimos 3 meses de preparação eu estava rodando uma média de 70/80 km por semana. Os treinos de velocidade passaram as ser um pouco diferentes, com distâncias maiores e ritmos “mais confortáveis”. E tiveram ainda, os temidos longões, que eu procurei fazer com alguns amigos da equipe e foram proveitosos e MUITO importantes. Fiz 2 longões de 28km, 2 de 30km/32km (divididos em 2 períodos de 15/16km – manhã e tarde), e um de 36km.

Uma das maiores dificuldades que encontrei neste período de treinamento foi conciliar treinos e trabalho e abrir mão de alguns eventos sociais por conta do ritmo intenso dos treinos.

Para a inscrição para a prova, tentei vaga através do sorteio. Para tanto, fiz a inscrição em janeiro. O sorteio foi final do mês de abril. De qualquer maneira, preocupado com o final das vagas destinadas as agências que as comercializam no Brasil, antes mesmo do sorteio, no final do mês de março, fiz a minha inscrição. Pensei: “se eu for cancelado, desisto do pacote pela agência” (havia essa possibilidade no contrato assinado com eles, sem multa). O sorteio oficial aconteceu e eu não fui sorteado, então mantive o pacote turístico já contratado.

A viagem

Viajamos para NY no dia 02. Chegamos lá no dia 03 pela manhã. A prova era dia 06. Acredito que seja tempo suficiente para adaptação ao fuso, que é apenas de 2h (no dia da prova, durante a madrugada, acabou o horário de verão deles, e aí o fuso passou a ser de 3h).

A alimentação foi toda pensada pela minha nutricionista e eu não tive qualquer problema em NY, visto que lá tem inúmeros restaurantes italianos, além de mercearias em todos os cantos onde pude comprar pães, bolos, queijo, presunto, frutas, leite, etc, de maneira que mantivesse a dieta prescrita.

Eu já conhecia NY; já tinha estado por lá em 3 oportunidades antes da prova. Então, já deixei combinado com a família que eu iria passear por lá com eles durante as manhãs, e as tarde eu ficaria descansando no hotel. E foi o que fiz. Na quinta-feira, quando lá cheguei, fui direto a Expo, retirei o kit, fiz aquelas compras, depois almocei com a família e fui descansar; sexta e sábado a mesma coisa: passeio com a família pela manhã, almoço, e por volta de 14h ia pro hotel descansar, até a hora de sair pra jantar.

A Expo da prova é um negócio fantástico. Logo após retirar seu kit, você cai numa loja gigante da Asics, com produtos só da maratona. Depois, dessa mega loja da Asics, há lojas de várias e várias outras marcas, com TUDO que você possa imaginar em termos de corrida. Vale MUITO a pena perde uma manhã ou uma tarde por lá. E, claro, ir com a carteira preparada…

A prova

No dia da prova, o relógio despertou as 5:20 – e precisava??? Eu tava acordado desde as 4… O dia estava bonito e fazia frio, por volta de 5 graus (ao final da prova a temperatura deve ter chego por volta de uns 12 ou 14 graus. Não estava nervoso, mas estava ansioso com a prova e pra saber se o que treinei seria suficiente pra fazê-la do jeito que eu pensei.

Pegamos o ônibus no hotel às 6h e tocamos pra largada, que fica fora de Manhattan (pelo menos 42km longe de onde estávamos), mais precisamente em Staten Island. Café da manhã sendo tomado no ônibus, conforme orientações. Agora, uma aula de logística. Segundo informações do site oficial do evento, pouco mais de 47 mil atletas estavam inscritos na prova. Pensa então em 47 mil pessoas, juntas, pra uma largada… Para que tenham noção do que é, a São Silvestre tem em média 20 mil e é um rolo dos grande na largada…. Tumulto??? Nada, tudo funciona de forma absolutamente tranqüila. Todos os corredores chegam pelo mesmo lugar, chegam de ônibus, sem tumulto ou engarrafamento.

Antes da divisão conforme a cor do número de peito, eu e o Guto (Augusto Silveira, também atleta da Sprint que participou da prova) ficamos quase 1 horinha por ali, numa área muito legal, sentados na grama, mega agasalhados, com direito a cobertor e tudo (cada um com o seu, evidente), comendo de tudo que tinha pela frente e curtindo a turma chegando. A sinalização é absurda, com telões e auto-falantes dizendo a toda hora o que os corredores devem fazer. Guarda-volumes que funcionam MUITO bem. Banheiros químicos aos montes; graças a Deus só precisei pelo número 1, pq pra fazer o dois é a mesma sujeira daqui.

E antes da largada já um momento marcante. O abraço no Guto e as palavras dele pra mim, agradecendo o “apoio e a parceria” (que apoio cara???) que eu havia lhe dado, me marcou. Cada um foi para a área destinada a largada, já que eu tinha a cor azul e o Guto a cor laranja.

A organização divide a largada em “3 ondas”, de acordo com o tempo previsto pra chegada, informado quando da inscrição. A primeira largada era às 9:40, a segunda às 10:10 e a terceira às 10:40. Os mais rápidos na frente. Nossa largada, minha e do Guto era as 10:10. Dentro de cada onda, há 3 cores, azul, laranja e verde, para fins de distribuição na ponte da largada (que tem dois andares e 3 pistas de cada lado). Cor verde parte inferior da ponte. Cor azul parte superior lado direito e cor laranja parte superior lado esquerdo. Dentro de cada onda e cada cor, ainda, há divisões mais específicas, para preparar a largada, que eles chamam de “corral”. É isso mesmo, curral. Com 50 minutos antes da largada, vc tem que ir até o seu “corral” e ficar aguardando ali a hora de ir pra ponte. Esses “corrals” são espaços que eles separam de 1000 em 1000 corredores, também de acordo com o tempo previsto pra chegada. A ideia é dividir bem os grupos e fazer com que os mais rápidos não tenham problemas. No “corral” também tem banheiro.

Hora de ir pra ponte da largada. O clima já vai contagiando. Os casacos começam a ser atirados para os lados, numa aérea própria para isso. Depois, tudo é doado para instituições de caridade. Na cabeceira da ponte, alinhados pra largada, pensa num momento emocionante: tudo que você passou no ano e treinou vem na cabeça, todos os treinos, toda a galera da Sprint, todas as provas, individuais e em equipe, o pódio do Volta a Ilha, o Quarteto do MD do Costão, o octeto do MD da Lagoa, a da tendinite, a meia do Rio, todas as mensagens e emails que recebi, o apoio da família, o profissionalismo com amor do Paulinho, o acidente e a recuperação dele; os 5kg que eu perdi pra estar ali “redondinho”, como me disse a nutricionista uma semana antes da prova (6 meses de dieta rigorosa e ela diz que eu tô “redondinho”?!?! Ainda bem que interpretei da maneira correta!). Enfim, tudo aquilo havia acontecido para que esse momento chegasse. E chegou.

Hino do Salve a América cantado me arrepia de lembrar até hoje. Depois um locutor, aos gritos, mete um “ARE YOU READY TO RUN? ARE YOU READY TO RUN???”. A adrenalina desse momento é demais. Após uma resposta não menos gritenta da galera, sinalizando estar pronta, tiro de canhão e o mesmo cantor do hino mete um “Start spreading the news”. Isso mesmo, New York New York, do Frank Sinatra, volume 18. É demais.

Passado o relógio da largada, demora uns 2 minutos que mal se consegue andar, é tipo um funil até chegar as 3 pistas da ponte. Isso, aliado a subida forte da ponte no primeiro 1,5km, fizeram com que o rodasse o primeiro km pra 5:35, fora do previsto, mas dentro da normalidade pelas condições que se apresentaram. A partir dali, com a descida da ponte, consegui encaixar um ritmo bom.

Como eu ouvi por lá, a maratona de NY parece um jogo de vídeo game, que você vai passando de fase e ela vai ficando mais difícil. Assim, NY não é uma maratona pra você pensar em fazer grandes tempos; é um evento pra curtir. Seja qual for o tempo que você cruze a linha de chegada, ele deve ser comemorado, e muito. Durante todo o percurso tem gente nas ruas; aliás, TEM muita gente nas ruas. Estima-se que 2 milhões de pessoas vão as ruas prestigiar o evento. Eu ouso corrigir, não vão prestigiar, eles vão torcer mesmo. Todo mundo com cornetas, bandeiras, aos berros, incentivando todos que passam; todos querem dar um hi-5 em ti. Se passar por perto das calçadas é inevitável e muito bacana. Há também 160 bandinhas de música tocando pelas calçadas ao longo de todo o percurso; vários telões, onde se via, ora a própria imagem de quem por ali passava correndo, ora mensagens de parentes e amigos.

Após a subida inicial de 1,5km na ponte, logicamente, tem a descida; e é uma boa descida, estilo consolação da São Silvestre. Ali, se a pessoa não tiver focada e ficar controlando, se entrar na empolgação e descer a lenha, pode te custar a prova, porque vai faltar lá na frente. Segurei a onda num até então confortável pace de 4:30/4:40.

Passei nos 10km com mais ou menos 47 minutos de prova. Estava me sentindo bem, muito bem. Continuei mais ou menos nessa batida até a “meia”, que é numa ponte, com uma subida curta, mas bem pesadinha. Fechei a meia com 1:41 e ainda estava me sentindo super bem. Já comecei a curtir a prova e pensar: “vai dar tudo certo”. No km 25, a Queensboro Bridge, o único lugar da prova que é fechado e não tem torcida. Uma ponte fechada, parecendo um túnel, com uma subida pesada (quase que uma brigadeiro da São Silvestre) de quase 1km. Consegui subi-la com pace médio de 5:35. Logo após essa subida, quando a gente começa a pensar no cansaço, desaba numa Manhattan alucinada, barulhenta, com um mar de gente nas avenidas, e aí, nem lembra mais do cansaço.

Percorre-se uma First Avenue lotada, por uns 5 ou 6km até chegar no bairro do Bronx. A partir daí o pace confortável já passou a ser o 5:00; não dava mais pra manter daquele jeito, mas ainda sem sofrimento. De lá, algumas curvas, e volta pela Quinta Avenida até chegar no Central Park. Ah, peraí. Quinta Avenida??? Inesquecível Quinta Avenida. 3km subindo. Subida leve, é verdade, mas depois de 35/36km??? Leve nada; essa subida maltrata, e muito; pra mim, a parte mais difícil da prova. Nessa subida tb não consegui manter o pace e acabei por fazê-la pra (os 3km) pra 5:08, 5:03 e 5:25.

Depois, ‘seta’ pra direita e entrada no Central Park, não menos lotado, com mar de corredores, torcedores e folhas, o que deixa o cenário inesquecível. Caraca, faltam só 4km, “senta a bota Luchi”, pensei. Tentei manter, porque acelerar não dava. Nesse momento, consegui avistar toda a minha família, não menos empolgada que a multidão, com bandeiras, camisa, apito, etc. É legal ‘bagarai’ e pareceu que botaram gasolina com Red Bull e whisky no meu tanque. Não deu nem tempo de querer pensar em desistir, ou “o que eu tô fazendo aqui?” que parece ser tão comum nesse tipo de prova.

Apesar de a segunda metade da prova eu ter feito com quase 8 minutos a mais que a primeira, quando eu vi, já tinha acabado o Central Park, passado pela rua 59 e adentrado ao Central Park de novo, no sentindo inverso para os últimos 400m.

Agora, pensa num ambiente contagiante e emocionante. Arquibancadas lotadas e vibrantes. Tem que ser forte pra não chorar. E eu não fui.

Tempo de prova: 3:29:40 –  5.377 colocado no geral, num total de 47.438 corredores;  830, na categoria 35-39, num total de 4.863; 44 dos brasileiros, num total de 372.

Depois da prova

Agora, a dispersão. Concluída a prova, você ganha um lanche generoso; uma coisa, estilo um cobertor, feito com papel alumínio, mas que eu não sei o nome, pra se agasalhar, e, vai caminhando lentamente até o caminhão que estão os seus pertences. Sem exagero, essa caminhada, no meu caso de uns 2km, eu levei, a passos de tartaruga, uns 40 minutos e aí sim eu xinguei o cara que bolou aquilo: pô, correr 42km e ainda ter que dar essa pernada pra pegar minhas coisas??? Cheguei a pensar em deixar tudo lá, mas eu só poderia sair naquele lugar, por causa do meu número. E agora, voltar pro hotel como?? Andando daria mais uns 4km, de taxi nem pensar (os taxistas não pegam você com aquele cheiro nem que pague o dobro).

Procurei uma estação de metrô. Depois de 5min pra descer 10 degraus, fui procurar o dinheiro pra pagar o metrô quando o guarda, vendo a medalha, cravou: “you don´t need coins; you have a medal. Enjoy your ride”. Achei legal isso e depois eu soube que várias e várias situações em NY os corredores não pagam depois da prova ou tem alguns privilégios. Claro que coisas básicas e baratas, como metrô, cafés, águas, etc, mas que são bastante simpáticas.

Você não pega fila nos restaurantes também, eles te passam na frente, basta estar com a medalha no peito. É claro que andamos toda a segunda com a medalha no peito. Ah, também vale destacar que 2h depois da prova seu resultado está no site da prova. E ainda, no dia seguinte, você recebe um email assinado pelo presidente do NYRR, Mary Wittenberg. Todos os corredores recebem essa mensagem do organizador da maior corrida de rua do mundo: “we call you champion”.

Dicas de NY

A dica para quem for a NY é a loja especializada em corrida, chamada New York Running Company, at The Shops at Columbus Circle. Tem tudo que tu podes imaginar de corrida, inclusive Garmins. (10 Columbus Circle, 2nd Floor).

Também neste shopping tem dois dos melhores restaurantes de NY: Masa e Per Se. Também sugiro um restaurante Italiano chamado La Masseria, que fica na 48th, entre a Broadway e a 8a. Ave.

Passeio à Estátua da Liberdade, Central Park e Empire State não podem faltar. Andar de charrete pelo Central Park também é legal. Paragon Esportes, situada na Broadway, também é excelente para quem quiser qualquer coisa relacionada a qualquer esporte, são 6 ou 7 andares, com tudo que você possa imaginar.

Os shows da Broadway são famosos e valem a pena. Eu estava com minha filha pequena e nao consegui ir, mas meu cunhado foi na peça do Spider Man e achou fantástica.

O próximo desafio

Já estou inscrito no MountainDo do Atacama (29/01/2012) e na Maratona de Berlim (30/09/2012); espero estar bem para participar de ambas as provas.