Corredor Viajante – Shigueo – Maratona de Miami

Prova: Maratona de Miami 2011

Relato enviado em 07 de fevereiro de 2011

Miami: A meca dos latinos

Como ouvi um dia, Miami é considerada o extremo norte da América Latina. É a porta de entrada de muitos turistas latinos que vão para conhecer a terra do Tio Sam (e alguns acabam ficando…) além de ser também o hub para alcançar vários destinos internacionais, devido à sua proximidade com países da América Central, México e Caribe.

A época em que é realizada a prova é propícia. Final de Janeiro ainda é inverno no hemisfério norte. Neste ponto Miami é privilegiada já que não corre o risco de ser afetada (diretamente) pelas nevascas que normalmente atingem os estados do Norte do país. Na edição de 2011, a temperatura no momento da largada foi de aproximadamente 13°C, perfeita para corredores. Também coincide com o período de férias escolares no Brasil, ou seja, o corredor pode associar a prova com um turismo a outros destinos próximos como Key West ou Orlando. Havia a opção de meia e maratona (além de uma prova de 5k corrida no dia anterior). No meu caso, fui para estrear nos 42.195m.

Miami tem uma estrutura boa de hoteis próximos à linha de largada, que vão desde os mais luxuosos como o InterContinental até os mais econômicos. Também existem opções um pouco mais afastadas como os hoteis localizados em Miami Beach, famosa por suas badaladas praias. Para estes, a organização disponibilizou serviço (pago) de transporte até o ponto inicial. Para os que preferiram ir dirigindo até o local, havia diversas opções de estacionamento mas preferi estacionar dentro do próprio American Airlines Arena, local coberto e seguro, que estava tabelado em US$5.

O despertar no dia da corrida teve que ser bem cedo já que os organizadores sugeriram que os corredores chegassem antes das 5h para não terem problemas com bloqueio das vias próximas. Apesar do trânsito um pouco carregado nas proximidades no centro da cidade, a chegada até o American Airlines Arena foi sem atropelos, o que deixou tempo suficiente para os preparativos finais normais de uma corrida. Os corredores eram instruídos a largarem seguindo as suas respectivas baias que estavam designadas por letras no número de peito. A assignação das baias foi baseada no tempo estimado de conclusão da prova. Mas uma vez que se aproximava a largada, os corredores foram se misturando e se comprimindo em direção à frente. Quinze minutos após a largada dos cadeirantes, foi dada a largada para todo o resto dos corredores, em torno de 21 mil segundo os organizdores. Levei  4’44” até cruzar o pórtico e passar pelo tapete de cronometragem e ainda estávamos no escuro.

A primeira e mais importante subida veio logo aos 300m com a rampa de acesso à MacArthur Causeway que liga Miami a Miami Beach. Dali para frente, o percurso foi essencialmente plano com três pequenas pontes que pouco incomodavam o pace dos corredores. Essa parte inicial da prova era conhecida pois foi a mesma da meia maratona de Halloween que fiz em Outubro do ano passado. Por volta do km 7 entramos na Ocean Drive, avenida que vai beirando a praia e conhecida pelos barzinhos e agito noturno, já com o sol despontando. Algumas pessoas tomando café da manhã e acho que outras tentando curar a ressaca da noite anterior mas no geral todo mundo incentivando os corredores. No caminho, reconheci a mansão Versace onde o designer Gianni Versace foi assassinado em 1997.

Próximo do km 10 passamos por trás do centro de convenções de Miami Beach, local onde fiz a retirada do kit no dia anterior. Aliás a feirinha lá estava bem concorrida com muita gente comprando tênis de corridas e outros acessórios relacionados. Para quem estava sem carro alugado ou com tempo escasso para compras, a feirinha ofereceu uma boa variedade de produtos e serviços. Na expo também confirmei que haveria pacers marcando o ritmo tanto para a maratona como para a meia, com os paces mais variados, o que ajuda bastante os corredores de primeira viagem. Por volta do km 13 chegamos na Venetian Causeway, retornando em direção ao continente. Esse foi um trecho bonito da prova já que dava visão para a Biscayne Bay e com o sol já brilhando forte com a água, prédios e casas completando o cenário.

Por volta da km 19, já estávamos correndo pela Miami Avenue. Havia uma concentração boa de torcedores por lá no melhor estilo Tour de France. O pessoal foi afunilando e chegaram bem perto dos corredores. Nesse momento, deu vontade de acelerar mas me segurei sabendo que a prova ainda não tinha chegado nem na metade.  Aliás, fiquei positivamente surpreso com a quantidade de gente torcendo pelas ruas. Achei que ia encontrar muitos trechos sem ninguém mas havia gente praticamente por todo o percurso.

Um pouco depois atingimos o ponto onde o pessoal que estava fazendo “só” a meia maratona se encaminhava para a linha de chegada. A separação foi tranquila, “half” para a esquerda e “full” para a direita. Vendo o pessoal na largada vi que a  maioria estava lá pra fazer a meia. Os dados pós-corrida comprovaram isso: 22% dos concluintes fizeram a maratona. Uma outra curiosidade estatística: Na meia maratona, praticamente a massa estava dividida entre homens e mulheres (50.2% vs. 49.8% respectivamente), mas na maratona a balança pendeu para os homens (65% vs. 35%).

Continuando nossa rota sul, cruzamos uma pequena ponte e passamos muito próximo ao prédio onde está instalado o consulado Brasileiro em Miami. Rumávamos em direção a Coconut Grove, bairro/distrito conhecido pelos bares e pelo lado artístico. Por coincidência, o consulado brasileiro estava baseado lá há alguns anos atrás. No caminho, passamos pelo acesso à Rickenbacker Causeway, uma estrada que leva a Key Biscayne onde se encontram condomínios luxuosos e também o Crandon Park, complexo de tênis que sedia o ATP tour de Miami. Lá foi onde vi a maior quantidade de motoristas impacientes com os atrasos causados pela maratona. Os policiais deixavam os motoristas cruzarem a pista conforme as brechas apareciam. Mas estas não se formaram na frequência necessárias e deu pra ver que a fila estava grande.

Após esse cruzamento, tivemos um trecho de um pouco menos de 1km onde pudemos ver alguns corredores já retornando sentido norte. Estávamos na altura do km 24 para 25. Neste trecho entramos por um bairro bem residencial e fomos recepcionados por residentes que assistiam à passagem dos corredores com seus cães a tiracolo e alguns até de pijama. Um deles tinha uma mangueira que ajudou a refrescar um pouco os corredores.

A partir daí comecei a cansar e o km 32 nunca que chegava. Mas antes disso tinha que aparecer o retorno e esse também não vinha. Passamos ao lado do Cocowalk, shopping center aberto que atrai muitos  turistas para a cidade de Coconut Grove e logo alcançamos a Bayshore Drive. Era o começo do retorno rumo ao centro de Miami. Passamos em frente a uma Marina e finalmente passamos pela milha 20 (km 32). Dali pra frente era território desconhecido para mim. Meus longões não tinham passado dessa distância.

Infelizmente por volta do km 35, após começar a sentir dores nos braços e ombros, comecei a caminhar. Acabei cedendo à teoria de que estava muito tenso e que a caminhada talvez me ajudasse a relaxar um pouco para poder retomar meu ritmo de meia hora antes. Aproveitei para comer umas castanhas e uma barrinha de cereais que tinha levado num ziplock, já que estava meio enjoado de tomar gel. Atingi o ponto onde entrávamos à direita na mesma Rickenbacker Causeway, a dos motoristas estressados. Já tinha retomado o trote e estava quase chegando no pedágio quando senti a primeira cãimbra. Em todos os treinos que fiz durante esta preparação, não tinha sentido cãimbra uma única vez. Parei pra alongar um pouco e voltei a caminhar.

E fui repetindo este “caminha e trota” por infindáveis 5km. Com pouco menos de 500m para completar a prova, apareceu uma última ponte. Foi a última caminhada. Dali pra frente prometi que iria pegar o embalo e terminaria correndo. Quando dobrei a última esquina, vi uma outra cena inesperada. As arquibancadas construídas pela organização ainda estavam cheias de espectadores. Pensei que elas já estariam vazias já que os vencedores já haviam chegado há um tempo e uma boa parte dos amadores também, isso sem contar na maioria dos concluintes da meia maratona. A sensação foi de euforia ao ouvir a galera vibrando. Por outro lado, perdi as esperanças de encontrar minha família no meio daquela multidão. Endireitei meu corpo e apertei um pouquinho só o passo, para não correr o risco de ter mais cãimbras antes de cruzar a linha de chegada. Assim como foi na minha estreia em meias, achei melhor sair bem na foto!

Levantei os braços ao cruzar o portal, em comemoração e agradecimento à conclusão em 4h41’20”. Recebi minha água e minha medalha. Por sinal, uma medalha muito bonita. Sempre terá destaque na minha pequena coleção de medalhas. Fui para a área reservada aos corredores onde havia farta distribuição de banana, bagels (pão), frutas em calda e barrinhas de cereal. Também houve distribuição de caixas (isso mesmo) de Gatorade Pro 03 recover, uma bebida indicada para recuperação muscular pós esforço composta de proteínas, carboidratos e eletrolíticos.

Em resumo, para quem está considerando a maratona de Miami, recomendo muito a prova. O percurso é praticamente todo plano, a torcida ajuda, os postos de hidratação estão bem distribuídos (também houve distribuição de gel GU perto do km 30) e contamos com temperatura agradável. Os corredores se dispersaram rapidamente após a primeira milha e não houve atropelo nenhum na chegada. É uma prova com premiação modesta e que portanto não atrai profissionais de renome mas que vem crescendo ano a ano com boa participação internacional.

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