Corredor viajante – Marcos Gagliardi – Maratona de Atenas 2010

Prova: Maratona de Atenas

Relato enviado em 23 de novembro de 2010

490AC – 2010DC – 2.500 depois – 28ª Maratona Clássica de Atenas – Todos são  vencedores

Em 2010, comemoramos os 2.500 anos da Batalha de Maratona com uma corrida única que foi um marco na evolução da história da maratona no esporte mundial.

A Maratona Clássica de Atenas não é apenas um evento desportivo de renome internacional. É corrida difícil, um percurso duro de 42.195 metros. Mais do que qualquer outra coisa, a Maratona Clássica de Atenas é a ponte que liga a lenda com a história e destaca o poder da vontade e da alma humana. É uma diversidade de valores, de consciência social, de consciência ambiental, de amizade e de solidariedade.

Aconteceu em 31 de outubro de 2010. O céu azul brilhou na manhã deste histórico dia, iluminando o incrível percurso original da maratona.  A largada foi às 9 horas (horário local), da cidade de Maratona (Marathon) e aproximadamente  13.000 maratonistas lá estavam para enfrentar o grande desafio. O percurso vai até a cidade de Atenas, com chegada no monumental estádio Panathenaikon, todo em mármore, local da 1ª Olimpíada dos tempos modernos em 1896, e também chegada da maratona da última olimpíada em Atenas.

Eu estava lá. Depois de correr 35 maratonas e 2 ultramaratonas, correr no percurso original, onde tudo começou há 2500 anos, foi uma honra, grande alegria e emoção. A corrida foi incrível, a atmosfera foi incrível e tudo se torna ainda maior porque foi o aniversário da maratona. Eu como maratonista tive o prazer de estar lá para fazer minha 36ª maratona.

No dia 31 de outubro, saímos cedo do hotel com um ônibus da organização e fomos rumo ao início de tudo, o município de Marathon. As 8h40min fui em direção ao meu bloco de largada; ali, naquele momento, estava tocando a música do filme “Zorba, o grego” cuja dança tem o nome de Sirtaki – uma mistura de ritmos lentos e rápidos da dança folclórica grega que embalou com seu ritmo estonteante os maratonistas; todos batiam palmas. Às 9 horas em ponto foi dada a largada com tiro de canhão; a largada foi no sistema de “ondas”, ou seja,  a cada 2 minutos largava um bloco. Eu estava no 2º bloco e logo larguei. Inicio tranquilo, cada corredor em seu ritmo, alguns fantasiados de soldados gregos e outros de romanos.

Os primeiros 4km são tranquilos com uma descida leve. No km 2,2 entramos à esquerda e passamos em torno do Memorial de Guerra (túmulo) da batalha de Maratona. Do km 6 ao 10 o percurso é plano, o dia estava quente, comecei a aumentar o ritmo passando por alguns colegas brasileiros. Corria em média 4min e 50seg/km e até aí tudo bem, apesar da preocupação com uma lesão que tive na panturrilha semanas antes da corrida que me fez ficar sem treinar por 3 semanas antes maratona.

O sol estava cada vez mais forte, a população local foi incrível, por todo o percurso gritavam Bravo!… bravo! e batiam palmas.  Nunca tinha presenciado tamanha alegria: todos estavam na rua torcendo, parabenizando os atletas, todos eram heróis, e mais bravo!… bravo! e eu retribuía com Kalimera – bom dia em grego. Dava para sentir: tudo parou, a cidade parou,  a maratona  2.500 anos estava passando, todos queriam ver….uma grande emoção, um povo sensacional.

Do km 11 ao 17 uma subida grande e acentuada nos 2 primeiros km. Meu ritmo estava em torno de 5min/km. Consegui mantê-lo, mesmo na subida. No km17, uma descida com uma inclinação acentuada; neste momento aproveitei para recuperar o fôlego, mas mantendo o ritmo. Ainda estava no início, e a  longa…longa subida estava próxima…

A cada 500 metros, por toda a maratona, dois socorristas lá estavam, com acessórios, sprays, para qualquer eventualidade com algum corredor. Muitos paravam para serem medicados, atendidos.

O abastecimento também foi impecável: água em temperatura fria e ambiente a cada 2,5km e, em muitos postos de abastecimentos, também havia esponjas com água para refrescar, isotônicos, bananas e barras de cereais, também banheiros químicos a cada 2,5km. Organização impecável.

No km18 inicia-se a longa…longa subida, em algumas partes não tão acentuadas e em outras mais intensa. O problema era a extensão da subida que não dava refresco. Quando parecia que iria ficar plano…mais subida e foi assim até o km 37. No km 23 tive que reduzir o ritmo pois sabia o que esperava, muitos maratonistas também reduziram e muitos andavam nesse longo trecho de quase 20km de subida.

O percurso variava de campos, montanhas, lindas paisagens no horizonte e residências, até entrar em Atenas.

Além da camisa do mackenzista, no meu shorts coloquei uma bandeira do Brasil, e muitos turistas, gregos falavam: Brasili…. Brazil…..!!! Bravo….! bravo!.. até crianças gritavam Brazil…!  bravooo!!

Isso dava forças…o calor apertava, o ótimo abastecimento minimizou o desgaste provocado pelo sol.

Logo após um viaduto, o viaduto da Cruz (km 30 ao 31) a subida se intensifica e ainda prolonga-se.

Muitos e muitos aplausos e mais Bravo!! Bravo!!

No km 37,5, a subida terminou, sabia nesse ponto que estava bem e que iria chegar forte no estádio, estava com reserva de energia. Imprimi um ritmo mais forte em torno de 5min/km.

No 39 km uma grande e suave descida pela Sofias Avenue. Os corredores passam sucessivamente em frente da Embaixada Americana, o Concert Hall e do Parque da Liberdade (km 40), que é o último local de abastecimento (água) para os corredores, aproveitei para pegar a ultima garrafa de água antes da chegada. Passamos pelo museu da guerra, e na última parte do percurso da maratona (41 km) passamos pela Mansão Maximos, o Palácio Presidencial e o Parque Nacional. Aqui uma longa descida de aproximadamente 1km levam os corredores até o monumental estádio Panathenaikon… Grande população ali também gritando Bravo!… bravo!! Estava perto….Ao final da descida abri os braços e agradeci as pessoas que lá estavam, fiz a curva que dá acesso ao estádio, e entrei no histórico estádio relembrando nosso grande maratonista Vanderlei de Lima,  nos jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, “voando” com os braços abertos…como avião…

A 170 metros do pórtico de chegada da maratona  sobre o tapete de borracha (Tartan), abri o braços novamente, a emoção era grande, agradeci às inúmeras pessoas que gritavam, Brasil!!, bravo….bravo!!

Passei pelo pórtico de chegada, completando os 42km e 195m, com o tempo de 4h e 04minutos,  que dentro da dificuldade da prova e por tudo que passei anteriormente (recuperação de lesão), foi um belo tempo, apesar que nesse momento o que mais importava era estar ali, e ter feito bem essa maravilhosa maratona de 2.500 anos.

Foi uma honra estar ali, reviver o percurso original da maratona e comemorar os 2.500 anos da batalha de Maratona. O ambiente estava fantástico , conquistei duas lindas medalhas. Hoje, amanhã.. depois… vou poder dizer que corri, estive ali na Maratona, no aniversário de 2.500 anos.

Obrigado a todos que confiaram em mim, e me apoiaram, agradeço ao Mackenzie pelo grande apoio e incentivo, muito obrigado…