Corredor Viajante – Fred Carvalho – Maratona de NY

Pensava que uma cidade quase totalmente acessível que possibilitasse a inclusão da pessoa com deficiência, motora, visual, auditiva, etc… Era um desejo quase utópico, um sonho. Mas ela existe, e pude “testa-lá” na primeira semana de novembro. Falo de Nova York, a cidade que nunca dorme, a cidade mais populosa dos EUA. São cinco distritos: Bronx, Brooklyn, Manhattan, Queens e Staten Island que possuem uma população estimada em 2009 em mais de 8,3 milhões de pessoas e com uma área territorial de 790 km²; Nova York é a grande cidade mais densamente povoada dos Estados Unidos. A população da região metropolitana de Nova York é também a maior do país, estimada em mais de 19 milhões de pessoas em 17.400 km². Além disso, a Área Estatística Combinada contendo a Grande Nova York possui mais de 22 milhões de habitantes.

Fiquei impressionado com a organização da cidade: com o mapa na mão, passei a explorar a metrópole. As guias rebaixadas e as calçadas bem cuidadas são a garantia de um passeio seguro. O serviço de transporte público funciona perfeitamente. Todos os ônibus possuem rampas de acionamento hidráulico e piso rebaixado, além disso eles quando param rebaixam a suspensão em aproximadamente 10 cm, isso facilita muito nosso acesso. O motorista auxilia no correto posicionamento da cadeira de rodas e na colocação do sinto de segurança, e ainda é grátis para portadores de deficiência. Todos os sanitários que entrei eram totalmente acessíveis, até em uma pequena cafeteria no Brooklyn.

O metrô, o maior do mundo com 368 quilômetros de extensão e 468 estações é utilizado por 1,4 bilhões de pessoas anualmente. tem um grande problema, principalmente no meu caso que sou cadeirante: a maioria das estações não possuem elevadores, mas o metrô já iniciou o projeto de adequação das estações e a colocação de elevadores e em poucos anos desejam ter 100% das estações acessíveis. Mas eu recomendo um passeio pelos túneis que cortam NY, nele toda a diversidade cultural pode ser sentida. Pessoas de todas as partes do mundo convivem em harmonia – pelo menos não presenciei nada que representasse o contrário. Cores, aromas, sabores, pessoas, culturas, hábitos, todos juntos. Siga até a Grand Central Terminal, escolha seu destino e curta o passeio.

Ainda sobre o transporte, fica uma dica: evite os táxis – pelo menos a experiência que tive não foi boa; a maioria dos taxistas não desceram para ajudar a guardar a cadeira no porta malas.

Faça os programas que todos os turistas fazem: 5Th Avenue, Times Square, Estátua da Liberdade, teatros da Broadway, o terraço do Empire State Building, o Rockefeller Center… Mas não perca a oportunidade de explorar a cidade. Os parques são encantadores, verdadeiras ilhas de tranquilidade em uma cidade com o ritmo frenético.

Fui para Nova York participar da maratona de NY, uma das mais desejadas corridas de rua do mundo. Fiz parte da delegação brasileira composta de oito atletas da Achilles International. A Achilles International é uma entidade presente em mais de 70 países que apoia e incentiva a prática do paradesporto. Fundada em 1983 em Nova York por Dick Traum, um amputado acima do joelho e por um grupo de entusiastas pelo esporte, aqui no Brasil ela é representada e dirigida pelo Prof. Mário Mello.

Um exemplo de que o esporte é uma excelente ferramenta de inclusão: mais de 250 atletas portadores com algum tipo de deficiência encararam o frio, o vento forte e às 8h00 após a execução do hino americano partimos da ponte Verazzano em Staten Island, um dos distritos de Nova York, percorrendo os 42.195 metros por todos os quatro outros (Brooklyn, Queens, Bronx e Manhattan), com chegada no famoso Central Park.

A primeira edição da Maratona de Nova York foi realizada em 1970 e contou com somente 127 participantes. O percurso, que era ao redor do Central Park, foi concluído apenas por 55 atletas. Passados mais de 30 anos, esses números foram significativamente alterados – atualmente a prova conta com a participação de aproximadamente 40.000 corredores procedentes de 120 países. Além disso, a prova conta com mais de 2 milhões de pessoas que saem às ruas para acompanhar a competição e 315 milhões de telespectadores ao redor do mundo.

A Maratona de Nova York faz parte, junto com Boston, Chicago, Berlim e Londres, do World Marathon Majors (WMM), o circuito das maiores maratonas mundiais. Mas Nova York é a mais popular; como o número de interessados é sempre maior que o número de inscrições disponíveis, antes de se inscrever os maratonistas devem participar de uma loteria. Todos os anos, cerca de 100 mil pessoas participam deste sorteio on line (www.ingnycmarathon.com), a organização limita a prova em aproximadamente 40 mil inscritos. A interação com outros atletas do mundo inteiro foi muito importante, a troca de experiências, dicas sobre treinamento, equipamentos, alimentação, foi uma oportunidade maravilhosa.

A corrida foi muito difícil, o frio e o vento forte promovem a sensação térmica negativa, mas o público nas ruas incentivam o percurso inteiro, é emocionante ouvir centenas de pessoas gritando seu número a cada esquina. Bandas tocando uma diversidade de estilos e ritmos, de gospel a punk rock, clássica e corais de crianças, grupos folclóricos do mundo inteiro, uma mistura de culturas e tradições. Foi uma experiência única, a energia positiva que recebemos do público é algo indescritível, não encontro palavras que descreva, essa energia não se vende, só consigo seguir durante uma corrida, acho que estou viciado e dependente disso.

Uma tradição é desfilar pelas ruas de NY com a medalha no peito no dia após cruzarmos a linha de chegada no Central Park, somos parabenizados, aplaudidos, até uma policial desceu da viatura e me deu um abraço, achei aquilo muito divertido. Não é “pagar mico”, faz parte da cultura da cidade que para apenas para assistir os corredores cruzar suas ruas.

Agora retorno aos treinamentos, em dezembro tem a 86ª Corrida de São Silvestre, será a minha primeira participação na mais tradicional corrida de rua brasileira. Para 2012 o planejamento é fazer as seguintes provas: Maratona do Rio, Maratona de Berlim, Maratona de Curitiba e participar do Circuito Caixa.

Conto com o apoio e patrocínio do IMG Instituto Mara Gabrilli, da TAM, da Corpore Academia João Pessoa, da personal Fran Lima, da Achilles, do professor Mário Mello, da minha esposa Leíza Carvalho, dos meus pais Rubens e Graça.

Maiores informações sobre corridas de rua em cadeiras de rodas podem acessar meu web site Cidades Sobre Rodas www.fredcarvalho.blog.br

Fred Carvalho
Cidades Sobre Rodas
www.fredcarvalho.blog.br