Corredor Viajante – Shigueo – The Other Half – San Francisco

US Half Marathon 2 – “The Other Half”, San Francisco, por Shigueo

Relato enviado em 17 de abril de 2010

Neste último dia 11 de Abril (2010) participei da primeira edição da US Half Marathon em San Francisco, Califórnia. Esta prova tem uma versão mais antiga que ocorre no mês de Novembro por isso intitularam a versão de Abril como “A Outra Meia” (The Other Half). Vale lembrar que o percurso desta prova não é o mesmo da meia maratona corrida em Julho na mesma cidade (o evento de Julho oferece uma maratona e duas opções de meia maratona no mesmo dia, haja organização!).

O Dia Anterior

A retirada do kit foi programada para uma loja de artigos esportivos chamada Sports Basement, presente apenas nos arredores de San Francisco, na região conhecida como Bay Area. A organização disponibilizou um micro-ônibus para fazer o translado do hotel oficial do evento até essa loja. Havia apenas mais 4 pessoas aguardando no ponto marcado e com a demora de 30 min ficamos todos meio desconfiados mas finalmente o transporte chegou. A loja era bastante ampla mas não foi difícil localizar a área de entrega do kit, se é que pode-se chamar aquilo de kit. Havia 2 pessoas conferindo o número de peito (chamado bib) e nem estavam pedindo a cópia do e-mail de confirmaçãomuito menos  o documento de  identidade, apesar do site afirmar que era necessário trazer ambos. Além do chip e do número de peito (que podia ser personalizado na inscrição on-line), foram distribuídos a camiseta oficial do evento, bonita mas de material simples, e um protetor labial. E só, nem uma bolsa para carregar estes itens eles tinham. A feirinha também estava bem fraca e apenas aproveitei para comprar 2 caixinhas de gel na loja e tomei o transporte de volta.

Apesar de não estar hospedado no hotel oficial, encontrei um Holiday Inn que ficava a apenas uma quadra de distância e era tão perto quanto da largada, além de ser mais barato! Assim não precisei alugar carro nem me preocupar com estacionamento, bem caro naquela região por ser uma conhecida área turística. A outra vantagem de ficar próximo ao Fisherman’s Wharf era a abundância de restaurantes O lado ruim? Preços turísticos também! Como de costume para os corredores, escolhi um italiano chamado Fior d’Italia, que ficava a 3 quadras do hotel, e saboreei uma sopa e um prato de caneloni. No caminho de volta, passei por um supermercado onde comprei meu café da manhã para o dia seguinte.

A Corrida: Chove ou não?

Às 5 da manhã saltei da cama para conferir o tempo. A previsão era de chuva mas olhando pela janela, notei que apenas estava ventando. Decidi vestir uma camiseta de manga comprida por baixo do meu “uniforme” de corrida já que a temperatura estava em torno dos 12 graus e o vento dava uma sensação de mais frio. Feitos todos os preparativos, atrasei ao máximo minha saída do hotel para não ficar muito tempo debaixo de uma eventual chuva. Fui trotando como parte do aquecimento  e terminei num pier de onde pude apreciar a vista de Alcatraz, Fisherman’s Wharf e da ponte Golden Gate, por onde estaríamos correndo alguns minutos mais tarde.

Na área de concentração percebi que não seria uma prova muito cheia. A confirmação veio através do locutor oficial que anunciou aproximadamente 2000 inscritos e uma proporção de 55%/45% de mulheres e homens, respectivamente. Não havia baias de separação por velocidade como em provas maiores mas realmente acho que não fez muita diferença.

A largada prevista para as 7 da manhã teve um pequeno atraso de 3 minutos (a organização deu uma chance para aqueles que ainda estavam na fila do banheiro) e o primeiro desafio veio logo nos primeiros metros. Foram 250m em subida pela Van Ness Avenue mas logo dobramos à direita na Bay Street para começar um caminho em declive em direção à Marina Boulevard, de volta ao nível do mar. Nesse trecho inicial do percurso foi bom contar com o apoio policial para garantir que os (poucos) motoristas não interferissem no trajeto dos corredores. Cruzamos com alguns corredores fazendo seu treino matinal mas vindo em direção contrária e era inevitável escutar as piadinhas do tipo “Vc está correndo pro lado errado!” ou “Vc é do pelotão de elite?”.

Como sempre faço, tentei identificar algum corredor que estivesse num ritmo parecido com o meu para “impor” um ritmo similar, mas o pessoal estava bem rápido neste começo de prova. Notei também que a marcação das milhas estava meio imprecisa e preferi seguir o meu GPS para monitorar a evolução durante a prova. Por volta do km 3.5 passamos em frente à loja onde havia retirado o kit no dia anterior  e por lá havia uma torcida “organizada” com gente fantasiada e tudo. Este mesmo grupo estaria dando o incentivo final no caminho de volta. Foram os únicos torcedores que vi durante todo a corrida.

As Várias Subidas e Descidas

O km 5 marcou o início da escalada rumo à Golden Gate bridge. Havia um posto de água providencial para os coredores poderem encarar as subidas. No meu caso, decidi levar minha cinta de hidratação por isso passei batido por todos os postos. Foram mais 300m de subida por uma rua arborizada e no final dela, comecei a ver os corredores mais rápidos que vinham em sentido contrário já 1km à frente.

Neste ponto, pensei que seguiríamos no plano para continuar subindo mas o que se seguiu foi uma descida, algo bom e ruim. Aproveitei pra abrir a passada e acelerar meu ritmo pra compensar a lentidão do trecho em subida. O lado ruim é que sabia que ia ter que encarar mais subidas e a seguinte veio logo no fechamento do km 6 e tinha 4% de inclinação. Foi dureza. Fui neste sobe e desce (inclusive passando por uma ponte de madeira que mal dava pra ir em fila indiana) até finalmente vislumbrar a famosa ponte Golden Gate.

A Golden Gate Bridge e o Vento

Uma visão majestosa. Sua marcante cor vermelha e as duas torres de quase 230m de altura dão o tom daquela que ainda é a segunda maior ponte suspensa dos EUA, atrás apenas da Verrazano-Narrows Bridge em Nova York (que é o cenário da largada da Maratona daquela cidade). O caminho dos pedestres só dá espaço para 3 corredores então foi necessário atenção redobrada nas ultrapassagens. No meio da ponte, vi um corredor parado admirando a vista que a ponte proporcionava da cidade de San Francisco. Realmente era uma parada compreensível. Sempre que dava, eu olhava para a direita e via Alcatraz e a cidade ao fundo. Se o tempo não estivesse totalmente encoberto me arrisco a dizer que também pararia e pediria pro colega corredor tirar uma foto.

Mas na ponte comecei a notar que vários corredores começaram a me ultrapassar. Em parte foi pela inclinação da ponte (mais alta perto das torres) mas depois me dei conta que o problema era o forte vento que batia. O mesmo vento conhecido por causar drásticas mudanças de tempo na região de San Francisco estava me empurrando pra trás. E foi tentando abrir meu caminho por esta ventania que cheguei ao final da ponte, fechando o km 10 um pouco abaixo dos 53min, tempo que estava melhor do que a minha previsão otimista para a prova. Foi uma injeção de ânimo.

Neste ponto, tive uma supresa. Sabia que desceríamos  passando por baixo da ponte e voltaríamos a subir para pegar a pista em sentido inverso na Golden Gate. O que eu não esperava era ver um caminho de terra batida. Ninguém tinha avisado que era meia trilheira! Como senti que o caminho não estava escorregadio, aproveitei novamente para abrir a passada deixando para trás vários corredores que estavam meio receosos e com o freio de mão puxado. Infelizmente a descida durou pouco e voltamos para um caminho asfaltado rumo à alça de retorno. Talvez tenha sido a subida mais difícil da prova, um trecho de mais de 500m em que confesso que pensei em caminhar por mais de uma vez. Mas não me entreguei e apenas reduzi a passada, olhei pra baixo e me resignei em ver vários dos corredores me ultrapassarem de volta. Já tínhamos passado mais da metade da prova. No final desta subida, mais um posto hidratação onde vi vários corredores parados tentando recuperar o fôlego enquanto tomavam sua água.

No caminho de retorno pela Golden Gate, tentei usar a técnica não muito elegante de me esconder atrás de outros corredores pra não sofrer muito com o vento. Não deu muito certo já que ou o corredor que eu escolhia era muito lento ou muito rápido. Mas pelo menos serviu pra me distrair nesta parte do prova. Um pensamento que me deixava animado era de que ao final da ponte, ia ser descida até o nível do mar! E de fato, consegui fazer os km 15 e 16 abaixo dos 5min/km. Cheguei a pensar nos ensinamentos da São Silvestre e considerei que poderia estar comprometendo o final da minha prova mas achei que era um risco calculado, principalmente considerando os maus tempos na ponte.

Chegada com Direito a Sprint Final

Já no nível do mar, fomos até o Fort Point e de lá iniciamos o retorno ao ponto da largada/chegada beirando a orla da baía de San Francisco. Outra novidade aí foi que seguimos por um caminho de cascalho que foi bem agradável pois ajudava a absorver o impacto da corrida. Começava a contagem regressiva até a chegada. O cansaço do corpo mais o vento, não tão forte como o da ponte, atrapalharam o ritmo. Tentei novamente usar a técnica de caça aos coelhos mas todos os eles eram mais rápidos que eu e me deixaram a ver navios! rs Chegamos ao fort Mason onde uma última subida nos esperava. Já nem estava mais olhando para o relógio e veio a última ladeira onde preferi descer com cautela já que as pernas não estavam mais lá essas coisas.

Finalmente avistei a linha de chegada e decidi apertar o passo. Quando emparelhei ao lado de um corredor de preto, ele se enfezou e não quis ficar atrás de mim. Fizemos um sprint final pelos últimos 20-30m. Chegamos exaustos, não trocamos nem um palavra. Apenas um sorriso e um aperto de mão. Respeito de coredor com brios. Foi um ótimo final em uma prova em que  consegui melhorar em 4 min meu tempo anterior da meia maratona, fechando em 1h51min09s.

Na chegada distribuíram a medalha (gostei) e um copo de alumínio comemorativo. Havia uma tenda para massagens e uma outra onde estavam preparando cachorros quentes. Não sei o suficiente de nutrição pós-prova mas acho que não é exatamente o mais recomendado. Nada de frutas ou outros itens mais tradicionais que vemos em outras provas. Como a garoinha que tinha começado a partir do km 17 começou a se transformar em chuva, resolvi voltar para o hotel. Apenas 30 min após a minha chegada eu já estava de banho tomado. Perfeito!

Prós e Contras

Achei que a organização da prova pecou nas placas de sinalização de milhagem. Lendo os comentários de outros corredores, fiquei sabendo que ficou faltando o copo de alumínio para os corredores que chegaram mais para o final e não havia camiseta no tamanho correto na retirada (creio que faltaram as médias porque vi um monte de grandes quando retirei a minha). Também achei que falharam na falta de informação sobre a localização exata dos postos de hidratação e por terem mandado um e-mail com as últimas instruções para os corredores dizendo que faria tempo bom quando a previsão era de chuva. O custo (US$81) foi alto principalmente pelo fraco kit oferecido.

Fora estes pequenos poréns que realmente não me afetaram, foi uma prova que me deixou muito satisfeito por ter superado o objetivo estabelecido de melhorar meu tempo anterior e ainda por cima em um percurso muito mais desafiador. O cenário deslumbrante da baía de San Francisco e a imponência da Golden Gate bridge ficarão na minha memória para sempre.

No meu blog (http://satrijoe.wordpress.com) colocarei algumas fotos adicionais bem como a altimetria da prova.